O Hospital Santa Barbara, no interior do Estado venezuelano de Zulia
- Josué Silva Abreu Júnior
- 8 de jul. de 2020
- 7 min de leitura
Esta é a oitava matéria da série que abordará todos os 46 primeiros hospitais habilitados para atender pacientes com Covid-19 na Venezuela. Nas últimas semanas o Estado de Zulia, que já apresentava o maior número de mortos e de contaminações comunitárias pelo foco do mercado das pulgas de Maracaibo, passou a ser também o que registra a maior quantidade de casos totais. Algumas hipóteses apontam que o vírus que circula no Estado é possivelmente uma mutação mais letal, uma vez que, quando Zulia ainda não apresentava o maior número de contaminados, já apresentava o maior número de mortos. Com o aumento dos casos de Covid-19, Zulia, que possuía apenas dois hospitais habilitados para atender pacientes com Covid-19, agora possui 6, além de hotéis e ginásios. O Blog se manterá fiel, no entanto, à proposta inicial e seguirá abordando os primeiros 46 hospitais habilitados. De toda a forma, é importante observar o trabalho realizado no Estado de Zulia como um todo, se preparando com antecipação ao crescimento no número de casos. Embora seja o Estado mais atingido, Zulia registrou apenas 1.311 casos do início da pandemia até o dia 6 de julho.
Antes de passar para o Estudo do hospital Santa Bárbara de Zulia em si, cabe abordar um pouco mais o panorama geral da Covid-19 na Venezuela. É interessante observar que desde o início da pandemia, o foco na Venezuela mudou diversas vezes, o que pode indicar a eficácia da criação dos cordões sanitários nos Estados mais atingidos. O Estado de Nova Esparta, por exemplo, foi um dos mais atingidos no início da pandemia, porém, logrou controlar a disseminação da Covid-19 sem ter registrado nenhum óbito por esta doença. Em seguida, quando o foco passou para Apure e Tachira, os cordões de isolamento criados nestes estados surtiram efeito e Zulia passou a ser o novo foco. Além do cordão sanitário, as contaminações em Apure e Tachira podem ter crescido de forma menos intensa em função da diminuição da onda de Venezuelanos que estão regressando ao país, uma vez que estes Estados fazem fronteira com a Colômbia. Há poucos dias, o número de casos comunitários está preponderando nos boletins diários em relação aos casos importados, uma realidade distinta de poucas semanas atrás. A Venezuela registrou 7.693 casos de Covid-19 do início da pandemia até o dia 6 de julho.
Entre o primeiro caso registrado no dia 13 de março e o dia 15 de junho, a Venezuela apresentou uma média de 31 pessoas contaminadas por dia. Entre o dia 15 de junho e o dia 5 de julho, esta taxa aumentou em seis vezes aproximadamente, subindo para 188 casos por dia. Os Estados de Apure e Tachira, que eram então os mais atingidos no dia 15 de junho, tiveram uma média no crescimento de casos menor que a média nacional entre os dias 15 de junho e 5 de julho. Enquanto a média de crescimento nacional aumentou 6 vezes neste período, a média de Apure aumentou 2 vezes aproximadamente e a de Tachira quase 3 vezes. No dia 15 de junho Apure e Tachira apresentavam 812 e 438 casos confirmados de Covid-19, respectivamente. 20 dias mais tarde, Apure apresentava 1239 casos e Tachira 754, sendo um acréscimo de 427 e 316 casos, respectivamente. Em Apure, entre o primeiro caso que foi registrado no dia 16 de março e o dia 15 de junho, a média de crescimento foi de aproximadamente 9 pessoas contaminadas por dia. Entre o dia 15 de junho e o dia 5 de julho, a média subiu para aproximadamente 21 pessoas por dia, pouco mais que o dobro. Em Tachira, entre o primeiro caso que foi no dia 7 de abril e o dia 15 de junho, o Estado registrou uma média no crescimento dos casos de 6,3 por dia. Entre 15 de junho e 5 de julho esta média passou para 16 por dia em Tachira, aproximadamente, quase o triplo. Dessa forma, é possível observar que estes dois Estados que já foram o foco da pandemia na Venezuela, estão conseguindo controlar o crescimento da contaminação quando comparados a outros Estados da Venezuela.
A maior parte das pessoas contaminadas em Zulia está na capital Maracaibo, que foi abordada na última matéria por meio do Hospital Universitário. A situação do Hospital Santa Bárbara, no município de Colón, é bastante distinta. É preciso considerar que Maracaibo possui mais de um milhão e meio de habitantes e Colón apenas 153 mil. Isto é, Colón possui uma população aproximada à de cidades como Poços de Caldas/MG, Ilhéus/BA, Bragança Paulista/SP ou Cabo Frio/RJ. A título de comparação, Bragança Paulista registrava 1.264 pessoas contaminadas, Cabo Frio 954, Ilhéus 1687 e Poços de Caldas 250 na manhã do dia 6 de julho. Em Cólon, o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no dia 21 de maio. A paciente foi internada no quarto andar do Hospital Santa Bárbara e teve alta no dia primeiro de junho. No dia 10 de junho, Cólon não registrava nenhuma pessoa com o vírus ativo. O segundo paciente com Covid-19 confirmado na região do Sur del Lago, onde está localizado o município de Colón, foi confirmado no dia 3 de junho. A paciente reside na zona rural conhecida como Caja Seca e está isolada no centro de diagnóstico integral, Rômulo Gallegos, no município de Sucre, que não está relacionado entre os 46 hospitais inicialmente divulgados. É importante ressaltar que este caso não ocorreu em Colón e que foi trazido para indicar que a região Sur del Lago está com poucos casos. O Blog não encontrou registro de pessoas contaminadas após esta data. É importante ressaltar, no entanto, que até o momento este blog não encontrou a atualização diária de Covid-19 nos sites da prefeitura de Cólon nem do estado de Zulia. Os casos foram conhecidos por este blog por meio da imprensa. O governo nacional divulga diariamente o município dos contaminados, mas até o momento este blog não teve acesso a nenhum documento que organiza o total de contaminados por municípios. O governador afirmou, no entanto, que dos 1332 casos confirmados em Zulia até o dia 5 de julho, 738 estavam em Maracaibo. O Estado encontra-se em quarentena estrita, exceto a região Sur del Lago, que está com a quarentena flexibilizada, indicando assim o baixo número de contaminados nesta região. É possível que não haja contaminados na cidade de Cólon e que isso justifique a inexistência de boletins diários neste município. A maior parte dos contaminados em Zulia, fora de Maracaibo, estão certamente dentro do eixo metropolitano. O fato de não haver grande contaminação na parte sul do Estado, indica igualmente a eficácia do cordão sanitário criado no eixo metropolitano de Maracaibo.
No dia 5 de julho, o laboratório do Hospital Geral Santa Bárbara recebeu das mãos do prefeito Blagdmir Labrador Mendonza, um equipamento de química sanguínea e de análise hematológica, que permitirá uma atenção de maior qualidade aos sulaguenses nesta crise da pandemia por Covid-19. O prefeito indicou que os equipamentos ajudarão os médicos a oferecer um melhor diagnóstico aos pacientes que receberem assistência neste centro de saúde. Disse que "estes equipamentos de laboratório foram entregues graças à articulação dos três níveis do governo". Os equipamentos auxiliarão igualmente nas áreas de ginecologia, obstetrícia e pediatria. É interessante observar que, embora hospital tenha recebido doações apenas em julho, este se encontra possivelmente sem pacientes com o vírus ativo em seu interior.
No dia 15 de março, dois dias após o primeiro caso na Venezuela e 67 dias antes do primeiro caso em Colón, o hospital recebeu doações de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e insumos médicos, assim como o Hospital Universitário de Maracaibo (HUM). A autoridade da saúde, Dra Omiara Prieto, indicou que os equipamentos foram enviados para a área de atenção à Covid-19. Esta informação está em consonância com as manifestações de profissionais da saúde que não atuam na área de atenção à Covid-19 que ocorreram em outros hospitais. Estes profissionais, em alguns hospitais, reivindicam a doação dos mesmos EPIs oferecidos aos profissionais que atuam nas áreas de atenção à pacientes com Covid-19, no entanto, não há dúvidas que os profissionais que atuam no contato direto com os casos positivos devem ser guarnecidos de forma prioritária. De toda forma, aparentemente não há casos positivos de Covid-19 em Colón neste momento. Neste mesmo 15 de março, Omiara Prieto reforçou as indicações básicas orientadas pela a OMS, como ficar em casa e lavar as mãos. Tais ações nem sempre são reforçadas por autoridades de outros países.
Assim como a maior parte dos hospitais sentinelas, o Hospital Santa Bárbara conta com uma planta elétrica para geração autônoma de energia em casos de pane elétrica. Esta foi posta em funcionamento em 2012, ainda no governo de Hugo Chávez. O hospital conta também com um poço e uma bomba d'água para seus serviços internos de água potável.
O município de Colón está disponibilizando leitos para pessoas que chegam de outras cidades do país, buscando evitar casos importados de contaminação. 18 leitos foram habilitados no estádio Isaías Segundo Montiel, para estas pessoas. É possível observar que, frente a ausência de pessoas com o vírus ativo, a prefeitura busca evitar os casos importados de contaminação, diferentemente de Maracaibo que tem o desafio de conter a contaminação comunitária.
Assim como em todos os hospitais estudados até agora, é possível observar o acompanhamento da mídia opositora. El Pitazo fez uma reportagem no dia 7 de março, 6 dias antes do primeiro caso na Venezuela e 75 dias antes do primeiro caso em Colón, criticando inicialmente o fechamento do segundo e do quarto andar. No entanto, o jornal não cita que estas foram as áreas isoladas para atender possíveis pacientes com Covid-19. O jornal transforma assim uma ação tomada com antecedência, o que é positivo, em algo negativo, no caso a indisponibilidade destas áreas para pacientes que não estão com Covid-19. El Pitazo critica igualmente que o hospital não realiza alguns exames, alheios ao da Covid-19, que os pacientes devem pagar por eles em clínicas privadas. Cabe ressaltar, no entanto, que os equipamentos que chegaram no dia 5 de julho irão suprir esta demanda em partes ao menos. O Pitazo critica igualmente que o hospital não foi pintado. É possível observar que o jornal não cita falta de EPIs, água, energia elétrica, falta de testes rápidos ou PCR ou de equipamentos para atenção à Covid-19. Recorrer a argumentos como a falta de pintura no hospital pode indicar a falta de críticas relacionadas às medidas de combate à Covid-19 comprovadamente mais eficazes, como o fornecimento de EPIs, testes, leitos, higiene, dentre outras.
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