O Hospital Universitário de Maracaibo, no Estado venezuelano de Zulia
- Josué Silva Abreu Júnior
- 23 de jun. de 2020
- 14 min de leitura
Esta é a sexta matéria que cobrirá todos os 46 hospitais da Venezuela designados para tratar pacientes com Covid-19. Em Zulia, dois hospitais foram designados: O Serviço Autônomo Hospital Universitário de Maracaibo (Sahum) e o Hospital San Bárbara. Neste texto será abordado o Sahum. Uma matéria futura será destinada ao Hospital San Bárbara.
Zulia registrou apenas 228 pessoas contaminadas com Covid-19 até o dia 23 de junho, porém, é um dos Estados que apresenta o maior número de mortos. O governo não está apresentando as estatísticas relacionando mortos por Estado diariamente, embora divulgue com certa frequência. Quando o governo divulga um falecido, no entanto, diz o estado que este habita. Em três casos, porém, o Blog Covid-19 não conseguiu saber os Estados nos quais os falecimentos ocorreram. É provável que o governo atualizará estas cifras. Na contagem realizada por este Blog, são 11 mortos em Zulia, 8 no Distrito Capital, 4 em Miranda, 3 em Trujillo, 2 em Lara, 1 em Sucre, 1 em Mérida, 1 em Bolívar, 1 em Arágua e 3 não identificados. Um dos casos não identificados chegou a ser registrado em Tachira, porém, dias mais tarde a governadora do Estado afirmou que nenhuma pessoa havia falecido por Covid-19 no Estado. O autor deste Blog chegou a noticiar este falecimento em seu primeiro artigo para o Brasil 247.
De acordo com o Colégio de Médicos do Estado de Zulia, o Sahum conta com 14 leitos operativos na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI). De acordo com os trabalhadores do hospital, são 12 leitos para ventilação. Em momentos de escassez no fornecimento de água, o hospital é guarnecido por caminhões tanques, de forma análoga a outros hospitais estudados. O Sahum possui igualmente 6 plantas elétricas para gerar energia para o hospital em casos de panes elétricas no estado de Zulia. No início de fevereiro (antes que o coronavírus chegasse a Venezuela), foi noticiado que apenas uma planta estava operativa e que houve falta de energia em algumas áreas. Apesar disso, o então diretor, Marvin Urbina, esclareceu que a emergência e a área de cuidados intensivos seguiram em operação. Diversos sites espalharam fake news relacionadas a episódios de panes elétricas no Sahum e afirmaram que 294 pessoas haviam falecido em função do apagão, sendo oitenta recém nascidos. Embora reconheça que algumas pessoas vieram a óbito nesta ocasião, a doutora Dora Colmenares, presidenta do Colégio de Médicos do Estado de Zulia, afirmou que "esta cifra é absolutamente falsa, é impossível que 80 recém nascidos morreram no Sahum". Durante a pandemia, no dia 3 de abril, o Estado de Zulia voltou a ter panes elétricas, porém, neste momento cinco plantas elétricas já estavam em operação no Sahum. Marvin Urbina informou que foram atendidos aproximadamente de 1.780 pacientes nas emergências de adulto e pediátrica. Disse igualmente que o Sahum não deixou de atender nenhuma parturiente em função da situação elétrica e que 94 partos naturais foram realizados, além de 64 cesárias e 38 curetagens.
No dia 28 de maio havia 54 pessoas hospitalizadas no Sahum relacionadas com a Covid-19, embora nem todas fossem casos positivos. Alguns destes pacientes ingressaram por haverem tido contato com alguma pessoa infectada, de acordo com três fontes do centro de saúde que foram entrevistados pelo portal El Pitazo. Os pacientes ocupam uma ala dos andares 7, 6 e parte do 5. Os hospitalizados estão separados de acordo com sua condição: os positivos por provas PCR, os positivos por teste rápido, os suspeitos e os pediátricos. Em cada um dos andares há uma equipe de saúde (médicos e enfermeiros). Apenas o especialista encarregado se move entre as áreas para atender aos pacientes. Os assintomáticos são enviados a hotéis e motéis da cidade, e são acompanhados por uma equipe médica. Lisandro Cabello, secretário de governo de Zulia, disse que em cada hotel ou motel da cidade há uma equipe de médicos e enfermeiras para atender às pessoas que estão cumprindo a quarentena.
El Pitazo informa em tom crítico que não são todos profissionais do Sahum que recebem a indumentária necessária para atender pacientes com Covid-19. O portal afirma que estes insumos são um privilégio apenas dos profissionais que assistem pessoas com o vírus e para aqueles que trabalham na sala de triagem respiratória. Na visão do Blog Venezuela Covid-19, a distribuição de EPIs está correta, uma vez que as indumentárias para atender pessoas com Covid-19 devem servir ao fim destinado, isto é, atender pacientes contaminados pelo coronavírus. Os EPIs destinados aos profissionais que não atendem estas pessoas são distintos. Os profissionais que estão mais próximos dos pacientes contaminados precisam estar mais protegidos. Um médico que pediu para não ser identificado disse ao Pitazo: "Podemos chegar a atender pacientes por algumas afecções que não apresentam sintomas respiratórios, e que possa estar positivo; então, também podemos nos contagiar por não ter vestimenta adequada". A reivindicação do médico é justa, porém, em um cenário de racionamento de EPIs, estes devem ser dirigidos de acordo com o trabalho que o profissional realiza. Dessa forma, é certo que os profissionais que estão em contato direto com os casos positivos confirmados correm maior risco de contaminação, necessitando assim de equipamentos específicos para esta função. O médico que deu entrevista, conforme identificado, não atende sequer pacientes com suspeitas de Covid-19. Cabe ressaltar também que o médico fala da falta de EPIs adequados, indicando que ele dispõe de EPIs que julga inadequados e que deseja ter os mesmos equipamentos utilizados pelos profissionais que atendem pacientes com Covid-19. Os profissionais médicos designados para atender casos de Covid-19 recebem luvas, máscaras para boca, toucas, máscara facial, óculos de proteção, batas e botas. O traje branco de biosegurança é usado quando um tratamento invasivo é feito, como retirada de amostra de sangue ou cirurgias.
Em relação a alimentação oferecida, os hospitalizados recebem diariamente duas arepas com frango para o café da manhã e janta, além de arroz com grãos para o almoço e, às vezes, verduras. Cabe ressaltar que todo o tratamento, incluindo a alimentação, é gratuito. A alimentação dos pacientes é complementada por guarnições trazidas pelos familiares.
Os pacientes recebem diariamente uma roupa cirúrgica para se trocar. O translado para os andares de hospitalização é feito baixo estritas medidas de proteção e desinfecção. Os pacientes são atendidos primeiramente na Unidade de Dermatologia, Reumatologia e Imunologia (UDRI) e são levados aos pisos de hospitalização a noite, quando diminui o tráfego de pessoas no centro de saúde. O paciente é transportado em uma ambulância até a parte de trás do hospital para chegar a um elevador contíguo à emergência de adulto que sobe até os andares de internação. Os pacientes vestem trajes brancos de biosegurança e duas pessoas vão desinfectando a área por onde ele transitou. De acordo com El Pitazo, o Sahum possui duas ambulâncias, mas apenas uma delas é utilizada para transportar pacientes com Covid-19. O portal afirma também que a deserção de alguns profissionais não afetou o funcionamento do hospital.
Antes mesmo que o coronavírus chegasse à Venezuela, notícias alarmistas já circulavam no estado de Zulia. No início de março, o Dr Freddy Pachano difundiu informação sobre um suposto caso suspeito. O diretor até aquele momento, Marvin Urbina, confirmou a afirmação e o médico Rolando Rondón reforçou a denúncia. O governador, Omar Pritero, do PSUV, afirmou que "se é falsa (a notícia) e (o doutor) está comunicando, vou ter que pedir o fiscal do Ministério Público que levante um procedimento contra este senhor". "Não estranhei que tratam de inventar notícias como estas que são para nós temas de segurança de Estado e que tem que ser investigados", acrescentou o governador. O Sahum informou oficialmente ao portal PANORAMA que o protocolo de atenção para possíveis casos de coronavírus estava pronto, que o hospital contempla habitação em dois andares para o isolamento de pacientes, um para mulheres e outro para homens. A direção do hospital sinalizou que não havia nenhum caso suspeito sendo avaliado em Zulia naquele momento. O governo de Zulia, por meio do seu secretário de informação, Juan Garcia, informou que a notícia que circula sobre o caso suspeito no Sahum é falsa. Disse também que o professor (o médico) que difundiu a informação deveria dar a cara para dizer onde estão os casos que mencionou. A vice-presidenta, Delcy Rodríguez, disse que a enfermidade ainda não havia chegado ao país. Disse também que os sistemas público e privado contavam com os protocolos para atuar no caso de pacientes com suspeitas de Covid-19. Tal protocolo está publicado no site do Ministério da Saúde. No dia 1º de junho, o governo de Zulia interveio na direção do hospital, substituindo Mervin Urbina, que dirigia o hospital desde janeiro de 2019, pela subsecretaria de saúde, Alfonsina Romero.
No dia 16 de maio, o Sahum realizou uma oficina sobre o uso de EPIs, como parte das ações promovidas pela nova diretora, Alfonsina Romero Pabón. A oficina foi focada em princípios de prevenção para diminuir as vias de transmissão do coronavírus, com a utilização adequada dos EPIs na abordagem dos pacientes. Foi enfatizado o distanciamento pessoal, assim como a manutenção das regras de higiene de lavagem das mãos com água, sabão e álcool.
De acordo com uma médica que foi entrevistada pelo portal Efecto Cocuyo no dia 4 de junho e que não quis ser identificada, o Hospital Universitário de Maracaibo (Sahum) está colapsado. Alguns portais dão a entender que os médicos e enfermeiros protegem suas identidades para não sofrerem perseguições, porém, é possível que a médica não tenha se identificado porque está difundindo uma notícia falsa, o que pode ser punido pela lei. A ideia de colapso do sistema de saúde ficou conhecida em casos como os da Itália ou da cidade de Manaus, no Brasil. Nestes contextos, não havia leitos e respiradores suficientes para todas as pessoas que apresentavam sintomas graves de Covid-19. No contexto da Itália, a escolha de Sofia, que consiste na decisão sobre qual paciente receberá tratamento, ficou bastante conhecida. O Sahum não se encontra nesta situação pelas informações prestadas pelo próprio Efecto Cocuyo. Isto é, o portal difundiu a fala da médica, estando ciente de que não era verídica. De acordo com o portal, o Sahum se encontra na "fase 2" do plano elaborado por especialistas para prepará-lo contra o coronavírus. Esta fase se inicia quando a área principal de isolamento atinge sua capacidade levando outras alas de hospitalização a serem abertas devido à chegada de muitos pacientes. O Sahum habilitou 3 andares para alojar pacientes com Covid-19. A fase 3 aconteceria em uma suposta realidade na qual haveria a lotação dos 3 andares. Neste caso o hospital recorreria ao apoio de outros centros. Ora, tais afirmações indicam que o hospital não está com sua capacidade esgotada. Neste sentido a fala da médica é alarmista e inverídica. O número de pessoas contaminadas em Zulia e de pessoas que vieram a óbito dão indícios da diferença entre o combate ao coronavírus neste Estado e nas cidades que se encontram com o sistema de saúde colapsado. Dos 8 falecidos por Covid-19 em Zulia até o dia 4 de junho, 4 morreram no Sahum, cifra muito baixa para um hospital em colapso.
Nos últimos dias, o Sahum recebeu numerosos pacientes relacionados com as contaminações ocorridas no mercado das pulgas de Maracaibo. Tal informação está em acordo com o que o governo Maduro vem divulgando diariamente sobre os casos de contaminação comunitária. Zulia é o Estado que registra o maior número de contaminações deste tipo, notadamente no Mercado das Pulgas. De acordo com o governador de Zulia, Omar Prieto, estas contaminações estão relacionadas com a Colômbia, uma vez que muitos mercadores vão ao país vizinho com frequência para fazer comércio, apesar do fechamento das fronteiras. Neste contexto, cabe ressaltar que a maior parte das pessoas contaminadas na Venezuela são cidadãos que deixaram o país no contexto da crise política e que retornaram principalmente pela fronteira da Colômbia após o início da pandemia. Mais de 55 mil venezuelanos já retornaram ao país desde março.
Efecto Cocuyo aponta que, em função da falta de profissionais, médicos residentes de todas as especialidades estão realizando turnos de guarda nas áreas destinadas para a atenção de pacientes com Covid-19. De acordo com o portal, os trabalhadores das áreas de Covid-19 denunciaram que estão recebendo apenas um EPI por dia e que passam 24 horas com os mesmos equipamentos de biosegurança. Dizem também que existem plantões sem profissionais da enfermaria e que alguns pacientes estiveram até cinco dias sem receber tratamento, porque a hidroxicloroquina demorou a chegar. É interessante notar que a Venezuela é criticada tanto por usar a hidroxicloroquina quanto por não fornecê-la. O país está utilizando principalmente a cloroquina como forma de tratamento desde o início da pandemia. Esta droga era administrada em pacientes com quadros leves e graves. A cloroquina era administrada igualmente para pessoas que tiveram contato com casos positivos. Além disso, o país faz uso experimental do lopinavir, do ritonavir e do Interpheron Alpha 2b. Os protocolos de atendimento estão publicados no site do Ministério da Saúde. Não houve atualizações no protocolo após a retirada da cloroquina e hidroxicloroquina dos estudos da OMS. O Estado de Zulia disponibilizou hotéis para isolar os profissionais de saúde contaminados. De acordo com Efecto Cocuyo, os residentes não tem ventiladores pulmonares garantidos em caso de necessidade. Dois residentes foram contaminados no Sahum.
No dia 3 de junho, um vídeo realizado dentro do Sahum viralizou nas redes sociais. A gravação, realizada no quinto andar, em uma das áreas destinadas ao tratamento de pacientes com Covid-19, mostra supostamente o desespero dos pacientes ante a ausência dos profissionais de saúde e o suposto falecimento de uma pessoa, de acordo com Efecto Cocuyo. Pela análise do Blog Venezuela Covid-19, não é possível ver desespero nos pacientes. 11 pessoas aparecem no vídeo sem dizer nada. Algumas estão em pé caminhando e outras estão deitadas. Nenhuma delas está tossindo ou aparentando falta de ar. Dois quartos são filmados. Duas pessoas em um quarto são filmadas por menos de um segundo e quatro pessoas em outro quarto. Neste segundo quarto está o suposto morto deitado em uma cama. Este foi filmado por apenas um segundo. Não é possível saber se a pessoa está morta. É possível observar que o paciente está utilizando um ventilador mecânico, indicando que estava recebendo tratamento. Os pacientes que compartilham o quarto com o suposto morto aparentam tranquilidade. A fala da pessoa que filma é análoga a estratégia discursiva já identificada por este blog. Em muitos portais lemos que não há água na Venezuela, que não há energia elétrica, sabonete, papel higiênico, etc. Estas informações são obviamente falsas, uma vez que sem água os venezuelanos morreriam de sede e sem energia os portais venezuelanos não poderiam publicar notícias. De forma análoga à estratégia discursiva citada, o cinegrafista diz: "Não estão atendendo. Não há nada de medicamentos e nada de enfermeira. Acabou de morrer um paciente que está aqui há vários dias e não o atendem. Morreu porque deu vontade nos médicos e nos enfermeiros que não atenderam. Aqui está o homem que faleceu. Por favor, nos ajude. Olhem como está aí. Não estão atendendo. Por favor. Nos ajude a sair desta merda". A informação de que não há médicos, enfermeiros e medicamentos é obviamente falsa, pois, os médicos e enfermeiros do hospital são conhecidos, dão entrevistas, fazem manifestações, etc. O próprio cinegrafista se refere aos enfermeiros e médicos aos dizer que o paciente morreu por vontade destes. Além disso, é conhecido que os residentes de medicina estão trabalhando no hospital e que dois deles foram contaminados. É sabido igualmente que a Venezuela realiza tratamentos experimentais com distintos medicamentos. O país chega a ser criticado por isso. O vídeo é igualmente contraditório ao apresentar o suposto morto entubado, pois isso evidencia que este estava recebendo tratamento. É preciso refletir igualmente sobre a ética por trás deste vídeo, uma vez que expõe pacientes que não estavam necessariamente de acordo com a filmagem. Milhares de pessoas morrem por Covid-19 diariamente e nem por isso são filmadas em seu leito de morte. No Brasil diversas pessoas tentaram invadir hospitais para filmar os leitos, após terem sido incentivadas por Bolsonaro. Tal atitude foi repudiada por grande parte dos veículos de comunicação no Brasil, no entanto, não foi a primeira vez que este tipo de situação ocorreu no Sahum. No dia 2 de junho outro vídeo mostrou um paciente supostamente desmaiado e com sintomas graves na sala de espera sem receber tratamento. A cinegrafista amadora afirma, no entanto, que o paciente testou negativo para Covid-19. Apenas 3 pessoas aparecem na sala de espera mantendo o distanciamento. Outra pessoa aparece no vídeo circulando a informação falsa de que o hospital não oferece comida. Mais a frente no vídeo ele se contradiz ao falar que o café da manhã chegou ao meio dia. O paciente reclama igualmente por ter sido internado mesmo sem apresentar sintomas. A pessoa que filma não mostra sua cara, porém, diz que os pacientes estão bem, exceto o senhor na sala de espera. Afirma que não há médicos e em seguida que só há dois médicos. Convido o leitor a assistir aos vídeos que estão listado nas fontes desta matéria (os dois últimos links). Não há imagens fortes.
No dia 4 de junho o governador de Zulia, Omar Prieto, informou que outro hospital centinela foi habilitado para atender pacientes com Covid-19 relacionados ao foco do Mercado das Pulgas e que 15 hotéis seriam utilizados para pacientes suspeitos. Disse também que nos dias seguintes chegaria um lote importante de testes rápidos, assim como insumos, EPIs para os hospitais, centros diagnósticos e ambulatórios, para garantir a proteção sanitária de médicos e enfermeiros. No dia 16 de junho, o governador informou que trabalhos de reabilitação e mudanças estruturais no Sahum estão avançando e que proximamente será inaugurada uma nova sala de emergências. Dentre os trabalhos realizados estão a instalação de ares-condicionados para climatizar a Unidade de Cuidados Intensivos e as áreas de isolamento para pacientes com Covid-19. Prieto detalhou que 30 policiais foram dotados com equipamentos de biosegurança e comunicação, com o objetivo de melhorar a segurança interna do hospital.
No dia 8 de maio, a Fundação Samaritana da Venezuela (Funsamar) doou insumos médicos, cirúrgicos e de diagnósticos para o Sahum. Foram 360 rolos de estofo para o setor de traumatologia, 2 caixas de coletores de urina e 2 caixas de cotonete para tomada de amostras diagnósticas para Covid-19 e de bacteriologia. Junto à doação, Funsamar aproveitou para criticar o governo por meio de noticiais imprecisas afirmando a "ausência" destes equipamentos no hospital. Não é crível para o Blog Venezuela Covid-19 a ausência de estopo e cotonete no Sahum. Não é demais reforçar que a afirmação da ausência ou da falta absoluta de algo na Venezuela é uma estratégia discursiva da oposição para a difusão de notícias imprecisas.
No dia 16 de junho, o ex-diretor do HUM faleceu por Covid-19 no próprio hospital. O Doutor Samuel Viloria foi diretor do hospital entre 2015 e 2017. Este foi o primeiro médico venezuelano a morrer no país durante a pandemia de Covid-19, embora outros médicos venezuelanos tenham falecido em outros países como os Estados Unidos. Este é um indicativo que os médicos venezuelanos que deixaram o país estão encontrando contextos de trabalhos mais difíceis que o da Venezuela. No dia 30 de abril, 16 médicos venezuelanos já haviam morrido por Covid-19 no exterior. O Grêmio Médico Zuliano afirmou que enviou condolências à família de Viloria. Antes de falecer, o médico e professor estava trabalhando no hospital Adolfo Pons, também em Maracaibo. De acordo com o Colégio de Médicos Zuliano o doutor Viloria estava ativo na atenção da epidemia que lhe custou a vida, por sua condição de base como diabético e transplantado renal, que não foram desculpas para prestar seu serviço". O governador de Zulia, Omar Prieto, lamentou a morte do especialista e o qualificou como um "homem revolucionário, que sempre atendeu com amor, humanismo e esperança ao povo mais humilde".
Pelas informações levantadas pelo Blog é possível observar que o Sahum se encontra em uma situação mais delicada que os demais hospitais estudados. Embora o hospital não esteja em colapso, este presenciou mortes por Covid-19, o que não aconteceu nos demais hospitais estudados até o momento pelo Blog Covid-19. No entanto, as mortes no Sahum foram poucas, quando comparadas às que ocorreram em hospitais de outros países que se encontram em colapso. É possível observar, no entanto, o tom alarmista dado as mortes que ocorreram no hospital por meio de vídeos com informações não verificadas e que ferem a intimidade de pacientes. Além disso, fake news sobre supostas mortes no Sahum foram difundidas antes mesmo que o coronavírus chegasse à Venezuela e foram desmentidas pela presidenta do Colégio de Médicos do Estado de Zulia. É possível observar igualmente a garantia no fornecimento de EPIs específicos para profissionais que atendem pacientes com Covid-19 e que EPIs distintas são destinadas aos demais profissionais. Cabe ressaltar, no entanto, que os EPIs são distribuídos seguindo um racionamento. Assim como os demais hospitais estudados, o Sahum possui recurso necessários para garantir energia e água potável mesmo em momentos de escassez no fornecimento destes itens. Ainda que o Sahum entre em colapso, o Estado de Zulia conta com mais dois hospitais designados para atender pacientes com Covid-19. Até o momento não há nenhum indício robusto de que o hospital esteja falseando os dados relativos ao número de mortos e de contaminados.
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